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Conversando sobre
Seu João
“Passei 50 anos tentando
Entrevista / Clarindo Veras aprender a principal
virtude do Seu João”
médico ortopedista
Douglas Machado momentos distanciados pela própria por inúmeras vezes, em inúmeros
O senhor conhece o Seu João há vida da gente, mas o coração sempre momentos difíceis. Porque amigo não
muito tempo, não é mesmo? ligado. Marcou para o resto da vida é só de festa. Festa não tem amigo,
o primeiro encontro. Marcou minha festa tem companheiro. Amigo é do
Clarindo Veras família toda. momento difícil. É da dificuldade, é
São 50 anos de convivência. Sempre da agonia. É quando você conhece os
me tratou como um filho. Não DM amigos.
ocupando o lugar do meu pai, mas em O senhor lembra da primeira
paralelo com meu pai. Tinha meu pai impressão que teve dele? DM
como irmão. Teria, então, alguma palavra que defina
CV o Seu João?
DM A primeira impressão que eu tive do
E quando foi o primeiro encontro com Seu João ficou até o fim. Um homem CV
o Seu João? simples, puro e amigo. Muito leal, Uma palavra define o Seu João:
muito prestativo e, principalmente, bondade. Uma palavra curta, mas que
CV acolhedor. Era um homem que nos cabe o infinito atrás dela. E assim era
Jogando baralho na casa do meu piores momentos, nas piores agonias, o Seu João. Bondade de corpo inteiro,
pai. Ele se virou pra mim e disse: “me você chegava pra ele angustiado, bondade de alma, bondade do que
arranja um copo d’água”. Eu ia fazer triste, com o mundo desabando, ele você imaginar. De saber reconhecer a
15 anos de idade. Seu João tinha virava pra você e dizia: tenha calma, necessidade das pessoas sem a pessoa
chegado a Teresina há quase um tenha paciência, todo problema pedir, sem a pessoa demonstrar.
ano. Dali por diante a gente conviveu tem solução. Essa é uma expressão
muitos momentos juntos, muitos que ouvi dele por diversas vezes, DM
Fale-nos um pouco da convivência
com o Seu João.
CV
Convivi muito próximo do Seu João,
muito ligado. Ligação mesmo filial,
ligação de conversar. Às vezes ele me
chamava pra conversar: “- Está onde?”
- Estou em casa. “- Fazendo o que?”. Eu
dizia: nada! Sempre que ele perguntava
a resposta que ele queria ouvir era essa.
“- Vem aqui para o Armazém”; “- Vem
aqui para casa”. Minha mulher, quando
me conheceu, eu já convivia com o
Seu João, vivia com ele pra cima e pra
baixo, ela sempre me fazia a pergunta:
“- Você vai pra onde?”. Vou levar o
‘cemitério ali’. Porque eu ia sentar
com o Seu João, conversar, ouvir...
ouvir e enterrar o assunto, sepultar o
que conversávamos. Sempre tive o
cuidado de sepultar as coisas que eu
ouvi do Seu João, que vivi perto do
Seu João, que presenciei.
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