Page 23 - Revista O Sucesso (501)
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Depois de Pedreiras, a senhora                                              Calma!  Eu sempre tive muito cuidado
                  trabalhou em Bacabal. Em seguida,                                           com ele. Evitava o máximo contrariá-lo.
                  veio para Teresina. Como foi, por                                           Procurava resolver muitas coisas e só
                  exemplo, trabalhar diretamente                                              depois de resolvido o comunicava.
                  com o Seu João?
                  Foi muito diferente, difícil não, mas                                       Partindo desse longo convívio com
                  muito diferente do que eu vivia lá em                                       ele, é possível encontrar um novo
                  Bacabal. Porque lá eu trabalhava na loja,                                   Seu João?
                  atendia no balcão, ia para a conferência,                                   Seu João é uma pessoa insubstituível.
                  ia no caixa. E cheguei aqui fiquei ao lado                                  Tem até aquele amigo dele, o Dr. Pedro
                  do Seu João, entre quatro paredes, e                                        Ribeiro, que fez uma poesia que diz:
                  ele disse: “eu não vou dizer o que você                                     “não terá outro Claudino nas futuras
                  vai fazer, você veja aí o que deve fazer!”                                  gerações”. E realmente é isso! Nunca
                  Foi uma mudança radical porque eu                                           mais vai existir outro Seu João. Partiu
                  nunca tinha trabalhado assim. Numa                                          e deixou uma lacuna muito grande
                  sala, sozinha, fechada, só um telefone,                                     para todos os segmentos. Deus está me
                  um ramal e a mesa com a sala dele                                           dando graças, porque foi muito tempo.
                  vizinha. Mas graças a Deus que, com                                         E Seu João foi aquele chefe, aquele
                  pouco tempo, fui tomando pé das coisas.   bem a hora de patrão, na hora como amigo, como   mestre, aquele professor, aquele
                  E quando ele falava comigo, dizia: “olhe, você só vai   chefe, com todo o respeito que ele merecia. Acho que   amigo, aquele pai, que eu aprendi muito com ele.
                  ficar bem prática mesmo daqui uns dois anos”. Eu   nunca falhei nisso. Não foi difícil, não.   Tanto na minha vida profissional, quanto na minha
                  dizia, vixe!...isso tudo? “Pode esperar que é só daqui             vida pessoal. E os ensinamentos dele que muita gente
                  uns dois anos”. Ah, mas eu fiquei preocupada: ahh...   Como era esse cotidiano trabalhando com ele?  via são valiosos, acho que isso aí deve ter ficado na
                  dois anos, não! Fui fazendo as coisas e como eu já   Era muito normal. Ele começou me chamando   memória de muita gente. Na minha memória vai ser
                  tinha 31 anos que trabalhava na empresa, já sabia   batendo na mesa como sinal, só que ele nunca   eternizada porque jamais eu esquecerei Seu João.
                  mais ou menos o que devia fazer, o que devia ir atrás   me disse que ia me chamar assim, mas eu ficava
                  e de como ele gostava de trabalhar. Organizando   de antena ligada! Mas, quando ele batia na mesa,   E tem uma palavra que ele gostava muito... a
                  as coisas para quando ele me perguntasse. Todo   eu já entendia e dava um pulo da minha cadeira   senhora poderia nos dizer?
                  dia, quando ele chegava, me chamava na sala e   e ia lá. Depois ele pegou uma sineta. Às vezes, eu   Ele gostava muito dessa palavra “extraordinário”,
                  conversava muito para eu ficar tranquila. Ele sempre   estava concentrada, fazendo alguma coisa, ele batia   parece muito com ele. Às vezes, conversando com
                  fez isso.                         aquela sineta e eu corria lá. Mas muito tranquilo. Ele   as pessoas, ele dizia que “fulano era extraordinário”,
                                                    chamava várias vezes durante o dia! Mas eu já me   dizia “esse aqui tem um filho extraordinário”. Mas
                  Para situar as pessoas que não conhecem a   preparava. Chegava cedo, como sempre cheguei,   eu acho que extraordinário mesmo era ele! Uma
                  história, nós estamos falando de que época, de   me situava das coisas que estavam na mesa dele, do   inteligência extraordinária, tudo. Ele é que era uma
                  que ano?                          que ele poderia precisar. Quando ele me chamava e   pessoa extraordinária! Hoje a gente está vendo que
                  Do ano de 1992. Cheguei aqui no dia 20 de fevereiro   perguntava: “cadê aquilo assim e assim”, eu já dizia:   extraordinário era ele, não essas pessoas que ele
                  de 1992.                          opa... está bem aqui. Todo dia eu olhava para ver   dizia. Mas estamos aqui, na saudade, muita saudade.
                                                    como estava a mesa dele. Podia me chamar qualquer
                  A senhora é uma das poucas pessoas que   hora e eu não ficava gaguejando, procurando sem   Além da palavra “extraordinário” o que faz a
                  conheceram o Seu João antes de se tornar um   saber onde estavam as coisas, não sabe? Mas era   senhora lembrar do Seu João?
                  homem importante na economia do Nordeste   muito tranquilo, muito! Às vezes, chegava lá e ele   Quando ouço um violeiro, a canção de uma viola,
                  e do Brasil. Num distanciamento possível,   “vamos, vamos, o que tem aí pra ver?” Tem uns   uma poesia, tudo isso faz lembrar muito dele, não é?
                  que leitura a senhora faz de João Claudino   assuntos aqui, mas tem um assunto delicado. E   Porque ele era fã de repentistas, de violeiros, gostava
                  Fernandes, como cidadão e como chefe?   ele: “pois então vamos ver logo”. Mas, às vezes, ele   muito da cultura. Quem não lembra das grandes
                  É muito interessante isso porque eu o conheci em   poderia estar avexado, porque poderia ter um outro   festas que ele fazia com tanto prazer, com tanta
                  todas as fases da vida. Como a pessoa que meu pai   compromisso e eu dizia: “vamos deixar para o fim”.   dedicação!? As festas de confraternização, aqueles
                  falava muito, depois como aquele comerciante,   Ele ficava querendo ver logo, quando chegava na   shows nas lojas, aqueles bingos e a organização em
                  depois como meu patrão, mas é uma coisa tão   hora de mostrar esse assunto ele dizia: “ah... pensei   tudo que fazia... é muita coisa que a gente lembra de
                  assim... acho tão comum isso, Douglas, porque eu   que era outra coisa mais grave” (RISOS). Já tinha   Seu João. Eu vejo as imagens dele naqueles vídeos
                  convivi tanto tempo com ele. Nunca me envaideci   acalmado os nervos, já estava muito tranquilo. Mas   que vocês fizeram no período que ele faleceu, tem
                  disso, mas eu tinha o Seu João como um pai. Meu pai   eu sempre soube conversar com ele. Se eu via que ele   cada coisa que não aguento olhar. A memória dele vai
                  morreu muito cedo e ele gostava muito de meu pai.   estava com alguma preocupação, alguma coisa eu já   ficar viva pra sempre. Pra mim, ele está viajando e vai
                  Então foi uma coisa muito natural, sabendo dividir   perguntava pra ele: “oxente, o que foi? O que houve?”   chegar ainda!



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                                                  Informativo Circulação Interna  O SUCESSO  I  Abril 2021




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