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Conversando sobre
Seu João
“Seu João era um homem que carregava
muitas vidas em uma vida só.”
Douglas Machado apreço muito grande pelas pessoas que ele, mas de um certo cunho psicológico
Na linha da vida, por conta de demonstravam alguma forma diferente fundamental. Ele sempre perguntava:
suas mudanças de cidade, o senhor de experiência de mundo, quero dizer “E é, rapaz?” O que significa, primeiro:
sempre teve arcos de encontros com assim, diferente da dele. Vice-versa, me confirma o que você disse. Então,
o Seu João. O senhor já refletiu so- eu admirava muito o Seu João pela es- eu quero conferir a primeira coisa que
bre esses encontros, como se a vida perteza de alma que ele tinha, a aber- você disse com a segunda pra ver se
tivesse colocado sempre um territó- tura de ânimo, temperamento aberto, há diferença. É a certificação, deixa
rio de possibilidades para vocês se sempre receptivo, e a atenção que ele eu dizer dessa forma, é a certificação
encontrarem novamente? dava. Ele sondava as pessoas sem da verdade. Segundo, era ele também
que essas mesmas pessoas sequer se fazer o exercício de retenção da memó-
Sebastião Moreira Duarte dessem conta. Uma das marcas que ria. Esse trabalho todinho tornava João
João era uma figura que atraía as hoje fazem graça... agora de manhã uma figura realmente cativante. Engra-
pessoas como um ímã, ele era uma eu lembrava disso, de João Claudino, çado, deixava você muito à vontade.
pessoa naturalmente comunicativa. E era ele colocar você aqui e ficar fazen-
era uma figura absolutamente excep- do perguntas a você, sucessivas. E ele E ele perguntava a mesma per-
cional, porque ele não era uma pessoa tinha sempre um refrão, que não um gunta mais à frente...
de muita instrução, ele não escondia sestro dele; ou se fosse não era uma Era, exatamente! Que era pra ver
isso, e não tinha absolutamente por coisa viciosa, era uma marca curiosa, se você estava se confundindo, ou,
que ficar devendo nada a ninguém nes- quero dizer que era uma habilidade, tal- repito, também para reter mais na me-
se aspecto. E tinha, por outro lado, um vez não percebida, não procurada por mória. Eu vou fazer uma coisa aqui e
espero que a coisa que estou dizendo
vocês não cortem depois. Eu brincava
com ele, eu dizia: “João, mas tu per-
gunta tanto”. “E é, rapaz?” Primeiro, tu
pergunta o que tu já sabe. Segundo, tu
manda a gente repetir. “E é, rapaz?”
Num brinca não, qualquer hora dessas
eu vou chegar aqui e vou dizer: Teu
pai é Joca Claudino e tu vai dizer: E
é, rapaz? A gente ria com essa tirada,
desrespeitosa até, mas não era, era
carinhosa. Era essa figura. E João, evi-
dentemente, se revelava, e de logo, so-
bretudo para quem tinha ainda a chapa,
o original, da montagem do que é um
Entrevista sertanejo, ele se mostrava uma figura,
SEBASTIÃO como posso dizer, arquetípica do valor
sertanejo, daquilo que o grego chama-
MOREIRA DUARTE ria a aereté sertaneja, aquele conjunto
de valores que fazem o homem, ho-
Escritor mem. João Claudino tinha isso, tinha o
valor sertanejo nos próprios poros. Eu
dizia: “João, pra mim, é um fenômeno
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