Page 30 - Revista O Sucesso (532)
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Conversando sobre
                                Seu João







                   “Seu João era um homem que carregava



                               muitas vidas em uma vida só.”





                      Douglas Machado                apreço muito grande pelas pessoas que   ele, mas de um certo cunho psicológico
                      Na linha da vida, por conta de   demonstravam alguma forma diferente   fundamental.  Ele sempre perguntava:
                   suas mudanças de cidade, o senhor   de experiência de mundo, quero dizer   “E é, rapaz?” O que significa, primeiro:
                   sempre teve arcos de encontros com   assim, diferente da dele. Vice-versa,   me confirma o que você disse. Então,
                   o Seu João. O senhor já refletiu so-  eu admirava muito o Seu João pela es-  eu quero conferir a primeira coisa que
                   bre esses encontros, como se a vida   perteza de alma que ele tinha, a aber-  você disse com a segunda pra ver se
                   tivesse colocado sempre um territó-  tura de ânimo, temperamento aberto,   há  diferença.  É  a  certificação,  deixa
                   rio de possibilidades para vocês se   sempre receptivo, e a atenção que ele   eu dizer dessa forma, é a certificação
                   encontrarem novamente?            dava. Ele sondava as pessoas sem   da verdade. Segundo, era ele também
                                                     que essas mesmas pessoas sequer se   fazer o exercício de retenção da memó-
                      Sebastião Moreira Duarte       dessem conta. Uma das marcas que   ria. Esse trabalho todinho tornava João
                      João era uma figura que atraía as   hoje fazem graça... agora de manhã   uma figura realmente cativante. Engra-
                   pessoas como  um  ímã, ele  era  uma   eu lembrava disso, de João Claudino,   çado, deixava você muito à vontade.
                   pessoa naturalmente comunicativa. E   era ele colocar você aqui e ficar fazen-
                   era  uma  figura  absolutamente  excep-  do perguntas a você, sucessivas. E ele   E ele perguntava a mesma per-
                   cional, porque ele não era uma pessoa   tinha sempre um refrão, que não um   gunta mais à frente...
                   de muita instrução, ele não escondia   sestro dele; ou se fosse não era uma   Era, exatamente! Que era pra ver
                   isso, e não tinha absolutamente por      coisa viciosa, era uma marca curiosa,   se você estava se confundindo, ou,
                   que ficar devendo nada a ninguém nes-  quero dizer que era uma habilidade, tal-  repito, também para reter mais na me-
                   se aspecto. E tinha, por outro lado, um   vez não percebida, não procurada por   mória. Eu vou fazer uma coisa aqui e
                                                                                      espero que a coisa que estou dizendo
                                                                                      vocês não cortem depois. Eu brincava
                                                                                      com ele, eu dizia: “João, mas tu per-
                                                                                      gunta tanto”. “E é, rapaz?” Primeiro, tu
                                                                                      pergunta o que tu já sabe. Segundo, tu
                                                                                      manda a gente repetir. “E é, rapaz?”
                                                                                      Num brinca não, qualquer hora dessas
                                                                                      eu vou chegar aqui e vou dizer:  Teu
                                                                                      pai é Joca Claudino e tu vai dizer: E
                                                                                      é, rapaz? A gente ria com essa tirada,
                                                                                      desrespeitosa até, mas não era, era
                                                                                      carinhosa. Era essa figura. E João, evi-
                                                                                      dentemente, se revelava, e de logo, so-
                                                                                      bretudo para quem tinha ainda a chapa,
                                                                                      o original, da montagem do que é um
                          Entrevista                                                  sertanejo, ele se mostrava uma figura,

                         SEBASTIÃO                                                    como posso dizer, arquetípica do valor
                                                                                      sertanejo, daquilo que o grego chama-
                    MOREIRA DUARTE                                                    ria a aereté sertaneja, aquele conjunto
                                                                                      de valores que fazem o homem,  ho-
                              Escritor                                                mem. João Claudino tinha isso, tinha o
                                                                                      valor sertanejo nos próprios poros. Eu
                                                                                      dizia: “João, pra mim, é um fenômeno



                                              Informativo Circulação Interna 30  O SUCESSO  I  Outubro 2023




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