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Conversando sobre
Seu João
da natureza”. Como o vulcão, a chuva, presente para Cajazeiras. Cajazeiras, para mostrar efetivamente quem era
o sol quente, como as braúnas serta- através de um dos seus historiadores, João Claudino. É que nenhuma palavra
nejas, como as grandes árvores que Deusdete Leitão, que era membro do que eu pus no papel, de nenhuma pa-
resistem à seca, que sabe que foram Instituto Histórico, resolve, lá no Insti- lavra, ele fez uso. E fez um discurso de
feitas para saírem vitoriosas. E que a tuto Histórico, em João Pessoa, fazer improviso simplesmente, não vou dizer
vida não é fácil, mas é bela. uma surpresa a João, dar uma medalha maravilhoso, mas muito melhor do que
a ele. E eu sou o culpado, quer dizer, eu eu tinha pensado, que eu tinha posto
O senhor mencionou, em uma fui quem botei essas coisas na mão e no papel. Curioso que ele foi treinando
das respostas anteriores, que o João João Claudino deu o livro de presente daqui até Cajazeiras, foi lendo e trei-
realmente não teve uma formação pra Cajazeiras, então vou acompanhá- nando. Era um homem de uma simpli-
acadêmica significativa, mas isso -lo. Chego aqui quatro para as cinco cidade, de uma acessibilidade, de uma
nunca o impediu de ter uma grande horas e aí Seu João me põe aqui na receptividade muito grande.
admiração por quem teve. Inclusive, Sucesso e diz “pega um computador aí
numa das conversas com ele, ele e escreva o meu discurso que eu vou Vivemos numa sociedade onde
me perguntou: “Qual é o profissio- pronunciar amanhã em João Pessoa. temos muitas distrações, olhamos
nal que você acha que eu gostaria Pouca coisa, uma página, uma página para o celular, nos distraímos, nem
de ser se não fosse empresário?”. e meia”, muito obrigado, aquela coisa sempre estamos presentes. Por
Eu disse “vaqueiro”. Ele me disse: toda, tive cuidado de colocar palavras outro lado, Seu João, para mim, foi
“Professor”. Pensando aqui, sim, faz que efetivamente fosse sair da boca um dos homens que mais estava
sentido. do orador, entrego pra ele, ele confe- presente no presente, compreende?
Foi, né? Que coisa. Vou guardar! re, “essa palavra aqui, vamos botar Ele estava conversando contigo,
Não me surpreenderia se eu ouvisse outra”. No dia seguinte, fomos para ele estava realmente conversando
dele essa resposta efetivamente. Eu Cajazeiras. Passamos a manhã em contigo.
vou te contar uma história, que contei Cajazeiras, e à tardinha vamos para Eu acho que João era um homem
agora de manhã para o Dr. Júnior. Eu João Pessoa. Eu me lembro bem que que carregava muitas vidas em uma
estou em casa, em São Luís, umas era uma sexta-feira anterior ao Carna- vida só, era um homem múltiplo, sendo
duas e meia para as três da tarde, e o val. Sexta-feira, já de tardezinha, em absolutamente uno. Era uno e múltiplo.
telefone toca, é João Claudino: “Sebas- João Pessoa, está todo mundo com a Isso era uma qualidade excepcional.
tião, tudo bem?” Ele começava sempre cabeça no Carnaval? Não! Estava todo Você disse que ele era um homem do
assim, era uma espécie de prefixo de mundo no Instituto Histórico! E discurso presente e prestava muito a atenção, e
entrada. “Sebastião Moreira!”, lá em pra cá, discurso pra lá, João Claudino ao mesmo tempo que isso é verdade,
cima, né? Oi, João tudo bem? Aí ele sentado. Ele pega as duas folhas de eu não posso esquecer, na sala dele
baixava o tom. “Sebastião, estou man- papel do discurso, e enquanto o pesso- tinha uma pessoa, duas, três, entrava
dando o avião ir pegar você aí para a al ia falando, sei lá se ele estava nervo- mais uma, de repente aquela pessoa
gente ir até João Pessoa”. Eu disse, so, o fato é que ele pega o papel, enrola que entrava era como já estivesse no
oxente homem, o que houve? “Não, as duas folhas e faz um canudo, e fica grupo por algum tempo, ele conversava
você é o culpado da viagem”. Como as- com aquelas duas folhas na mão. Com um assunto com você aqui, conversava
sim? “Você inventou de fazer uns livros a palavra agora o Seu João Claudino. outro assunto com aquele ali, quando
sobre o Padre Rolim em Cajazeiras”. Ele se levanta, vai à tribuna, pega o ca- você achava que parecia que estava
Eu não inventei, ele foi quem deu a Ca- nudo e fica batendo na tribuna, e come- esquecido e cobrando a ele que ele
jazeiras um presente. O Padre Rolim ça. “Eu, se algum dia, eu imaginasse havia esquecido o assunto, ele reto-
de Cajazeiras todo mundo conhece, o que iria receber uma homenagem tão mava de onde ficou. Era uma memória
fundador, o educador dos sertões. Esse bonita como essa, num ambiente tão também, como eu posso dizer, excep-
título foi eu que criei para dar título à ilustre, eu garanto a vocês que tinha cional. No fundo ele acolhia a todos e,
biografia do Padre Rolim, de uma figu- passado mais tempo na escola do pro- curioso, ele entrelaçava todas as pes-
ra que vai aparecer para a história. No fessor Deusdete Leitão, que está aqui soas. Daqui você saía, não só amigo
aniversário dos 90 anos do Seu Joca na minha frente”. Quer dizer, receben- dele, mas colega do todos que estavam
Claudino, em Zé Doca, eu apresentei do uma homenagem, prestou uma ho- ali. Eu não tenho lembrança de terem
esse livro para João Claudino e, cla- menagem a um professor. Eu acho isso encontrado isso em outra pessoa. É
ro, mandou publicar. Ele dá isso de muito significativo. E mais significativo uma marca de João Claudino.
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